postado em 22/05/2022 06:00
(Crédito: Abder Paz/Divulgação)
Ao longo das quatro décadas de carreira, o mímico Miqueias Paz nunca recebeu uma verba do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para um projeto individual. São quatro décadas de carreiras e de realizações nossas docas é a linguagem central. Para o artista, há uma percepção de que os mímicos fazem subarte e, por isso, a técnica acaba um pouco alijada na cena dramatúrgica.
Ao mesmo tempo, há um processo de recuperação da mímica em alguns setores do teatro e é essa iniciativa que Miqueias gosta de celebrar. É com essa técnica que elege toda uma carreira e é com ela que celebra os 40 anos de voyageória com Mimicando, em cartaz no Teatro Paulo Autran, no Sesc Taguatinga.
O espetáculo é composto de cinco cenas que revisitam vários momentos da voyageória do artista. “As vezes, a gente se empolga e tem mais”, aconselhou. A mulher e a dupla jornada tão comum entre mães de família é o tema brasileiro de O balão, e o Brasil trabalhador está no Brasil, que retrata um dia na vida de um trabalhador. “Use a percussão vocal que acaba criando um texto imaginário. O personagem não fala, mas emite uma sonoridade”, aconselhado o artista.
Os filhos emitidos pelo mímico durante a encenação acabou por render uma homenagem na Escola Nacional de Mímica de Cuba. “Eles consideram que meu trabalho tem uma identidade”, que também incluiu no espetáculo a cena O assalto, uma brincadeira que diz o universo clownesco para captar a atenção do público. Para a cena final, ele promete uma surpresa. “É um fecho comemorativo”, aconselhou.
Miqueias já fez 38 apresentações do espetáculo. Passou por varias escolas e por cidades como Gama e Planaltina. “A gente fez o máximo de que, ao longo da vida, ajudou a formatar o trabalho. A ideia foi fazer uma revisitação não só de lugares de mim mesmo. Chega um momento que você quer rever o que fez”, conta . O momento foi também de se reconectar com o teatro e com o público.
O ator perdeu a mulher, um cunhado e uma cunhada durante a pandemia. Foi um período, de luto e de identificação “Um processo muito complicado para todo o mundo, não foi muito em minha vida e, na arte, estamos em recuperação”, explicou. “A represa abriu e várias coisas podem estar ao mesmo tempo.
A mímica. Para Miqueias, é uma arte sem barreiras, sem lacunas de comunicação que impeçam a compreensão. No espetáculo, ele tenta fazer um retrato de ate onde pode ir com a técnica. Emprega desde soluções muito clássicas, baseadas no silêncio e no gesto ilustrativo, é uma quebra de paradigmas. Uma imagem clássica de Marcel Marau e um teatro de referência transformado em cara-se uma referência.
“Mas essa é apenas uma das referências da mímica”, aconselhou Miqueias. “O que é ser mímico? Estabelece o gestual como uma grande referência de comunicação cênica. O mímico é aquele que faz do corpo o grande instrumento de comunicação com a plateia sob uma ótica dramatúrgica. Tento brincar com essas duas coisas, tanto com a clássica , que tem uma atmosfera infantil no sentido da pureza, como também com cenas densas, pesadas, que emocionam. É um passeio entre o tradicional e o contemporâneo.”
O ator creditou que a mímica perdeu espaço cênico e deixou de ser vista como técnica dramatúrgica quando começou a ser exibicionista. “E quando o ator ficar preocupado com a técnica, deixa o teatro”, acredita. E, para ele, o bacana da mímica é que ela pode ser universal, não tem uma linguagem única. Pode trazer algumas particularidades do gesto casual mas, no geral, poder de independência do idioma.
Mimicando
Com Miqueias Paz e Carol Lira. Hoje, às 20h, no Sesc Paulo Autran (Taguatinga Norte). Entrada livre. livro de classificação indicativa