O anti-intelectualismo que tem gramado nossos últimos anos é muito perigoso. Tem sido a educação a partir da cultura, sendo a ciência extrema-direita, com expressão na forma como educação ou sendo cada vez mais negligenciada. É essencial aposta no saber, no conhecimento, na formação do sentido crítico dos cidadãos. E aí, os livros, as artes, as escolas são decisivas.
Mas espírito crítico implica também perceber que os livros não são tudo. Mas: ler não são considerados como culturas populares, informais, não são consideradas como formas culturais, que são muitas vezes de recomendações ou que sejam consideradas como culturas populares, que são muitas vezes propostas de instituições. Esta semana ficou a saber-se através de um inquérito práticas de consumo cultural dos portugueses (que ficou a saber-se) que não leram vazio em 2020. Um número que merece reflexão contém.
Mas o que também merece questionamento é o comportamento de todos aqueles (das redes, a órgãos de comunicação) que imediatamente se digladiaram à ver quem é que lê mais, arvorando-se social de grandes valores, como se ler reste um distintivo civilizacional para usar ufanamente na lapela, desdenhando com arrogância de todos os outros.
Nem oito, nem 80. A leitura pode ser uma aventura sem fim, mas também não ser grande coisa. Ler, interpretar, ter uma reflexiva e humildade de querer conhecer, mas nem sempre convergem. Temos muita informação, mas parece que cada vez sabemos menos, e acumulamos conhecimento técnico, como valor de uso competitivo no mercado, mas também sabemos que cada vez sabemos o conversor num tipo de diálogo com uma vida ampla. E é isso que muitas vezes faz falta.
Há pessoas iletradas com quem se aprende mais do que com qualquer livro. No caso, importante fé Custódio, já falecido, pastor de ovelhas de vacas. As ele, em miúdo, aprendi qualquer coisa que nenhuma educação nos predispõe, através da sua forma desprendida de se procurar a si e aos outros. Qualquer coisa que está lá sem motivo aparente. Uma realidade que é, apenas: a permanecer lá, o estar, o dar, o compartilhar ou a mera contemplação do, que acaba por ser sempre uma forma de nos escutarmos a nós, ou para o limite de nós, o que ainda Por conter os contornos do que acabamos. Sentávamo-nos no cume de um monte. Planura a perder a vista. Uma cadela a arfar. E ele sacava do pão e partilhava-o, enquanto nos entretinhamos a analisar núcleos, deslocações, silhuetas, o movimento migratório das aves, luz e sombra. Veja, entre outros momentos, uma sinergia, uma troca de experiências e experiências.
Não haveria uma utilidade imediata, mas parecia para ele não era abstract e não fazer. Era cogitar em conjunto para criar práticas que dialogam com a vida com o propósito de cuidarmos melhor uns dos outros. Tão simples quanto isso. Se pit hoje, à retórica do pragmatismo e da tecnicidade, ele oporia o gosto de compreender. Você pode pensar que, às vezes anos depois, me é fácil idealizar e poetizar a situação. Não creio. Hoje, aos olhos de muitos, o meu tio Custódio seria alguém sem grandes horizontes. Não é verdade no sentido prático, é verdade muitas. Não era viajado. Mas ter mundo não é ter milhas acumuladas, ter vivido loin, saber saber, conhecer as pessoas certas ou gozar com quem achamos que não tem mundo. Ter mundo, entendido como ele, é conseguir pôr-se no lugar de um outro. A partir daí, começa uma possibilidade de compreensão do mundo. E isso não está atualizado em nenhum livro.