No início, era Milton Nascimento. O cantor e compositor é o núcleo, a essência, a força motriz do Clube da Esquina. Mas que esquina é essa? O cruzamento das ruas Paraisópolis e Divinópolis, em Santa Tereza, onde Lô Borg se encontra a turma para tirar um som? Ou o Centro de BH, onde Bituca projetado para a família Borges e Fernando Brant? Seria a tal esquina a casa em Mar Azul, onde Milton, Lô, Beto, Ronaldo e companhia deram vida às composições do disco de 1972? E o que dizer do estúdio da Odeon, no Rio de Janeiro, no qual os músicos do Som Imaginário deram as canções à luz?
Em 1978, desde que lançou os melhores discos de sua carreira – “Milton”, “Clube da Esquina”, “Milagre dos peixes”, “Minas” e “Gerais” –, Bituca convocou amigos e porqueiros para outra obra-prima, ou também duplo “Clube da Esquina 2”.
Está todo mundo ali de novo: Lô, Márcio, Ronaldo, Fernando, Beto, Nelson, Toninho, Wagner. Mas o clube ganha outros membros: Flávio Venturini, Joyce, Chico Buarque, Tavinho Moura, Elis Regina, Murilo Antunes, Boca Livre, Danilo Caymmi, Novelli.

O disco não foi a primeira colaboração dessa turma com Bituca, mas o “Clube Esquina 2” consolidado a um grupo. Muitos outros se associam, antes e depois, além das fronteiras do Brasil: Mercedes Sosa, Wayne Shorter, Herbie Hancock, James Taylor, Jon Anderson, Peter Gabriel e Pat Metheny são alguns deles.
Se mirarmos o “Clube da Esquina” sob a perspectiva de um girassol, Milton é o miolo, a medula. Os cocriadores do disco de 1972 figuram bem próximos ao núcleo – simbiose criativa que durará décadas. Logo depois, os músicos encontraram os músicos que não apenas deram vida ao “Clube da Esquina”, mas haviam cruzado de Bituca antes desse acontecimento e a esquina do lado dele no decorrer da carreira.

Por fim, a expansão absoluta, os encontros que transcendem Minas e Rio de Janeiro, os laços afixados em a vida dedicada à música e à amizade. O Clube da Esquina é do tamanho do mundo, mas cabe também nas pétalas de um girassol.
Leia neste sábado (3/12): Destaques do jazz, os americanos Wayne Shorter e Herbie Hancock falam de sua inspiração por Milton Nascimento. A contrabaixista Esperanza Spalding aprendeu português só para gravar “Ponta de Areia”.